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CORAGEM
O melhor soldado não é o que ergue mais alto o sabre, mas o que corajosamente sacrifica a própria vida.[1]
A coragem forma, junto com a prudência, a temperança e a justiça, o conjunto das quatro virtudes cardeais da Antiguidade e da Idade Média.
Dentre todas as virtudes, a coragem parece ser a mais admirada do mundo, e por ser universal, é admirada também pelos maus e pelos estúpidos.
A coragem é a virtude dos heróis, e os heróis são sempre admiráveis.
A falta de coragem, segundo Aristóteles, é a covardia, e o seu excesso é a temeridade, a imprudência, e todas são desprezíveis.
Se há uma coragem justamente admirável, como saber?
Seria a de enfrentar o medo? Certamente é mais louvável superar o medo do que se entregar a ele covardemente. O medo extremo também pode provocar um ato de coragem, como um suicídio provocado na iminência da morte, por exemplo.
E coragem é isso?
Poderíamos chamar de corajoso o indivíduo que explode um avião com centenas de pessoas inocentes dentro? E, nesse caso, qual seria o mais corajoso: aquele que comanda a explosão em terra firme e em segurança, ou aquele que embarca no avião sabendo que irá explodir com os passageiros e tripulantes? Poderiam essas atitudes ser chamadas de corajosas?
É difícil achar que sim. E podemos pensar que nesses casos uma certa dose de covardia teria provocado menos mal, o que seria preferível.
Que nome daremos a isso, então?
Uma maldade corajosa será sempre uma maldade, o fanatismo corajoso não deixa de ser fanatismo, e não podem ser tomados por virtudes.
Disso decorre que a coragem, como a inteligência, não é uma virtude moral por si só. Uma pessoa inteligente e corajosa, mas imoral, pode causar muito mal, e é nesse sentido que a coragem pode servir tanto ao mal quanto ao bem.
Em seu livro Pequeno tratado das grandes virtudes, o filósofo francês, Sponville, fez o seguinte comentário sobre a coragem: “embora sempre estimada, de um ponto de vista psicológico ou sociológico, a coragem só é verdadeiramente estimável do ponto de vista moral quando se põe, ao menos em parte, a serviço de outrem, quando escapa, pouco ou muito, do interesse egoísta imediato.”
A coragem virtuosa não gosta de fazer alarde e não busca aplausos e, no entanto, não deixa de ser estimável.
Quem não admira a coragem de Sócrates que humildemente se submete à sentença de morte que lhe foi importa por seus concidadãos? A coragem de Gandhi, de Madre Tereza de Calcutá, de Giordano Bruno, de Joana D’Arc, e outros tantos?
Quem não se comove com a história de Janusz Korczak, médico polonês, diretor de um orfanato que abrigava 200 crianças no gueto de Varsóvia? Por amor àquelas crianças, o médico voluntariamente colocou-se ao lado delas quando foram sacrificadas na câmara de gás. “Como poderia abandoná-las nessa hora extrema?, disse ele.
Teria Korczak sentido medo? Quem saberia dizer?
Essa coragem virtuosa não pressupõe a ausência do medo, mas a capacidade de superá-lo, caso ele se apresente, com uma vontade firme e generosa. Trata-se de uma coragem diferente daquela que às vezes é exibida nos filmes, em que um herói, fisicamente forte, mata milhares de pessoas em nome da justiça, mas é a coragem da abnegação, da simplicidade, movida unicamente pelo desejo de ajudar o seu próximo.
A coragem-virtude e uma força da alma, e não força física ou força da paixão. É a coragem da brandura, da docilidade, que foi a coragem do Cristo.
É interessante observar que a palavra coragem vem do termo francês courage, da família etimológica cœur [2], que significa coração. Vale observar também que antigamente considerava-se o coração como a vida do espírito, a sede da memória, dos pensamentos e sentimentos.[3] Por isso ainda hoje se usa a expressão: “saber de cor”.
Podemos concluir dizendo que a coragem é a nossa vontade determinada, seja para enfrentar o perigo, o sofrimento, ou a morte.
Mas a coragem não é menos necessária para pensar, porque ninguém pode pensar por nós; é necessária para perdoar, porque ninguém perdoará em nosso lugar. É necessária para não ofender, pois a indulgência é uma virtude corajosa.
É preciso ter coragem de olhar para si mesmo, conhecer-se profundamente e reconhecer que são o orgulho e o egoísmo que nos tornam medrosos, covardes ou indiferentes.
Mas a coragem talvez seja mais necessária no momento em que decidimos enfrentar a nós mesmos e, num ato de humildade corajosa admitir: “posso estar errado.”
Sim, é preciso coragem para reconhecer a própria imperfeição e efetuar as mudanças internas, difíceis, mas necessárias.
Por fim, é preciso a coragem para amar, pois só assim é que se conquista uma vida mais feliz.
Equipe Filosofia no ar / TC 05/07/2011
[1] Revista Espírita, novembro de 1861 - Discurso do Sr. Allan Kardec.
[2] Étym. XIIIe; curage 1050 - de cur, variante ancienne de cœur. Famille étymologique cœur.
Fonte: Le Nouveau Petit Robert de la langue française, 2008.
Do latim coraticum (cor + -atĭcum): associação entre a palavra latina cor, que tem como um dos significados a palavra coração, e o sufixo latino -atĭcum, que é usado para indicar a ação da palavra que o precede. A palavra latina cor, por sua vez, pode ser derivada da raiz indo-europeia kerd-, da qual derivaram tanto a palavra grega kardia (καρδία) – em cujo significados encontram-se coração, a vida do espírito (pensamentos e sentimentos).
Fonte http://pt.wiktionary.org/wiki/coragem
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