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Sabedoria de criança
Numa aula de filosofia, numa classe de crianças de cinco anos, a professora precisava passar aos seus alunos as noções do “possível” e do “impossível”.
Com intuito de levar os pequenos ao entendimento do que é o impossível, a professora lhes propôs a seguinte questão:
“É possível a um homem velho voltar a ser criança?”
Uma garotinha de olhos vivos e de grande sagacidade, respondeu prontamente: “sim, é possível, professora!”
Obviamente essa não era a resposta esperada, já que a intenção da professora, ou de quem elaborou a aula, era que os alunos concordassem que isso é impossível.
Mas, como se tratava de uma aula de filosofia, era preciso dialogar com as crianças para que o entendimento fosse efetivo.
A professora, talvez supondo que a garotinha não havia entendido bem a pergunta, disse-lhe: “Então explique como é que um homem velho pode voltar a ser criança.”
Com uma segurança incomum a muitos adultos, a criança respondeu: “Ora, quando o homem fica velho, ele morre, e então nasce de novo como criança.”
Mas era preciso ensinar o conceito de “impossível”, então a professora refez a pergunta: “É possível a um homem velho, sem morrer, voltar a ser criança?
A nossa pergunta agora é: de onde teria vindo, para aquela criança, a ideia de renascimento, uma vez que seus pais não falavam com ela sobre esse assunto? Parece que o próprio fato já pressupõe a ideia da reencarnação.
Muitas crianças trazem ideias inatas sobre os temas mais diversos. Isso denota que já nascem sabendo coisas que certamente não aprenderam em sua existência atual, ainda tão recente. A essas ideias inatas é que Sócrates chamava reminiscências.
Como explicar esses pequenos gênios da música, da pintura, das matemáticas, e de tantas outras áreas do conhecimento humano, a não ser pela teoria da reencarnação?
Há pessoas que negam a reencarnação, seja porque não a compreendem, seja por outras razões. Não temos a intenção, nem a pretensão de convencer quem quer que seja, mas apenas fazer algumas breves reflexões sobre o tema.
“Coloquemo-nos portanto momentaneamente num terreno neutro, admitindo no mesmo grau de probabilidade ambas as hipóteses, ou seja: a pluralidade e a unicidade das existências corpóreas, e vejamos para que lado nos levará a razão e o nosso próprio interesse.”
“Se não há reencarnação, há somente uma existência corpórea, isto é evidente; se nossa existência corpórea atual é a única, a alma de cada homem é criada no seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso no qual se perguntaria o que era a alma antes do nascimento, e se esse estado não constituía uma existência sob uma forma qualquer.
Não há meio termo: ou a alma existia, ou não existia antes do corpo; se ela existia, qual era sua situação? Tinha ela ou não consciência de si mesma? Se não tinha consciência, é quase como se não existisse; se tinha sua individualidade, era progressiva ou estacionária; em ambos os casos, em que grau chegou ela ao corpo?
Admitindo, segundo a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a dar no mesmo, que anteriormente à sua encarnação ela tem apenas faculdades negativas, fazemos as seguintes perguntas:
1. Por que a alma mostra aptidões tão diversas e independentes das ideias adquiridas pela educação?
2. De onde vem a aptidão extranormal de certas crianças de tenra idade para tal arte ou tal ciência, enquanto outras permanecem inferiores ou medíocres toda sua vida?
3. De onde vêm, em alguns, as ideias inatas ou intuitivas que não existem em outros?
4. De onde vêm, em certas crianças, esses instintos precoces de vícios ou de virtudes, esses sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza que contrastam com o meio no qual elas nasceram?
5. Por que certos homens, abstraindo da educação, são mais avançados do que outros?
6. Por que há selvagens e homens civilizados? Se pegássemos uma criança hotentote recém nascida, e a educássemos nos nossos liceus mais renomados, faríamos dela algum dia um Laplace ou um Newton?
Perguntamos qual é a filosofia ou a teosofia que pode resolver estes problemas. Ao nascer, as almas são iguais ou são desiguais, sobre isso não há dúvida. Se elas são iguais, por que essas aptidões tão diferentes?
Pode-se dizer que isso depende do organismo. Mas então é a doutrina mais monstruosa e mais imoral. O homem não seria mais do que uma máquina, joguete da matéria; ele não teria mais a responsabilidade de seus atos; poderia tudo atribuir às suas imperfeições físicas.
Se as almas são desiguais, é que Deus as criou assim; mas então por que essa superioridade inata concedida a algumas? Essa parcialidade é conforme a sua justiça e ao amor igual que ele dedica a todas as suas criaturas?
Admitamos, ao contrário, uma sucessão de existências anteriores progressivas, e tudo está explicado. Os homens trazem ao nascer a intuição do que adquiriram; eles são mais ou menos avançados, conforme o número de existências que percorreram, conforme estejam mais ou menos afastados do ponto de partida: absolutamente como numa reunião de indivíduos de todas as idades, cada um terá um desenvolvimento proporcional ao número de anos que tiver vivido; as existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a vida do corpo.
Deus, em sua justiça, não pôde criar almas mais perfeitas que outras; mas, com a pluralidade das existências, a desigualdade que vemos não tem mais nada contrário à equidade mais rigorosa: é que nós vemos somente o presente e não o passado.
Este raciocínio repousa sobre um sistema, uma suposição gratuita? Não; nós partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral, e achamos este fato inexplicável por todas as teorias correntes; enquanto a sua explicação é simples, natural, lógica, por uma outra teoria. É racional preferir aquela que não explica àquela que explica?
Há ainda uma outra questão: qual é o destino das crianças que morrem em tenra idade antes de ter podido fazer nem bem nem mal? Se elas estão entre os eleitos, por que esse favor sem nada terem feito para merecê-lo? Por que privilégio são elas libertadas das tribulações da vida?
Há uma doutrina que possa resolver estas questões? Admitamos existências consecutivas, e tudo é explicado de conformidade com a justiça de Deus. O que não pudemos fazer numa existência, fazemos numa outra; é assim que ninguém escapa à lei do progresso, e que cada um será recompensado segundo seu mérito real, e que ninguém está excluído da felicidade suprema, à qual podemos almejar, quaisquer que sejam os obstáculos que tivermos encontrado no caminho.” [1]
Encerramos estas breves reflexões com um pensamento de Giordano Bruno sobre a reencarnação, dito diante de seus inquisidores, por ocasião de seu julgamento em Veneza, no ano de 1592.
Uma vez que a alma não pode ser encontrada sem o corpo e todavia não é corpo, pode estar neste ou naquele corpo e passar de corpo em corpo.
[1] Veja-se “O Livro dos Espíritos” - Parte Segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos - Capítulo V - Considerações sobre a pluralidade das existências, item 222.
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