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O egoísmo
É por causa de seu egoísmo que os homens punem-se uns aos outros, e que o homem torna-se lobo do homem.
O egoísmo é um defeito de caráter; é o vício mais generalizado na humanidade terrena. É o agente que mais provoca sofrimentos, que mais infelicita o gênero humano.
A palavra egoísmo é derivada do latim, “ego”, que significa “eu”, mais o sufixo ismo ou ista, que é utilizado para formar o nome que corresponde a uma doutrina, um dogma, uma ideologia, uma teoria, uma corrente de pensamento qualquer. Como exemplo temos cristianismo, ateísmo, maometismo, panteísta, economista, futebolista, musicista, etc.
E assim temos as palavras egoísmo, egoísta, egocentrismo, egotismo, que designam aquele que tem o “eu” como ideologia, aquele que concentra sobre si seus próprios pensamentos e atividades.
Há uma palavra que se pode considerar contrária ao termo egoísmo, e foi inventada por Augusto Comte, em 1830, que é a palavra altruísmo.
A palavra altruísmo é derivada do latim alter, traduzida para o francês como autre, que significa outro. Ao contrário do egoísta, o altruísta é aquele que tem uma disposição para se ocupar com o outro, para se interessar pelo outro; aquele que tem um sentimento de amor instintivo ou refletido pelo outro.
Em filosofia, altruísmo é a doutrina que considera o devotamento ao outro como a regra ideal da moralidade.
A pessoa altruísta deseja que o outro seja feliz e tudo faz para que esse desejo se realize, sem esperar nada em troca. A pessoa egoísta nada faz com desinteresse, está sempre buscando alguma satisfação pessoal.
Alguns sintomas característicos do egoísta:
- Falar sem cessar de si, ou fazer constantemente referência a si mesmo;
- Preferência, no falar e no pensar, pelos termos: eu, meu, meus, minhas;
- Preocupar-se apenas com seus interesses, com seus próprios prazeres, em detrimento ou desprezo pelos dos outros;
- Valorização exagerada do que é seu: suas ideias, suas opiniões, seus gostos, seus desgostos, etc.
- Eis alguns vícios morais provocados pelo egoísmo:
- Ganância, avareza, corrupção, ódio, injustiça, despeito, cinismo, violência, hipocrisia, despotismo, covardia, vaidades, desprezo, ciúmes, inveja, cólera, isolamento, desamor, impaciência, indiferença, ingratidão, apego, extorsão, etc.
Todos os efeitos produzidos pelo egoísmo sobre o indivíduo, podem ser percebidos também nos grupos, no egoísmo nacional, egoísmo de uma classe, de um grupo religioso, de um partido qualquer. O mesmo ocorre com os efeitos do altruísmo.
Altruísmo é sinônimo de caridade. No entanto, a palavra caridade tem uma acepção mais extensa e mais profunda, e por isso ela é a virtude contrária ao egoísmo.
Há caridade em pensamentos, em palavras, em atos. Ela não é tão somente a esmola. O homem é caridoso em pensamentos sendo indulgente para com as faltas do próximo. A caridade em forma de palavra nada diz que possa prejudicar a outrem. A caridade em ações assiste ao próximo na medida de suas forças.
O pobre que partilha seu pedaço de pão com alguém mais carecente do que ele, é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que o rico que dá do seu supérfluo sem de nada se privar.
Quem alimenta contra seu próximo sentimentos de ira, de animosidade, de ciúme, de rancor, falta com a caridade.
A caridade é a antítese do egoísmo.
O egoísmo é a exaltação da personalidade. A caridade é a sublimação da personalidade.
A caridade diz: Para você em primeiro lugar, para mim depois.
O Egoísmo grita: Para mim antes, para você se sobrar.
Fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós, é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo.
Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, para tomar como padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós desejamos. Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles?
A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas somente união, concórdia e benevolência mútua.
O egoísmo faz com que o interesse pessoal prevaleça acima de tudo. Cada pessoa arrebata o que pode para si, o semelhante é visto apenas como um antagonista, um rival que pode se intrometer em nosso caminho, que podemos explorar ou que pode nos explorar. A vitória pertencerá ao mais sagaz e a sociedade, coisa triste de dizer, consagra comumente essa vitória, o que faz com que ela se divida em duas áreas principais: os explorados e os exploradores.
Disso resulta um antagonismo perpétuo, que faz da vida um tormento, um verdadeiro inferno. Substitua-se o egoísmo pela caridade e tudo será diferente. Ninguém procurará fazer mal ao seu vizinho, as iras e os ciúmes se extinguirão por falta do que os alimente, e os homens viverão em paz; auxiliarão uns aos outros ao invés de se despedaçarem mutuamente.
Se a caridade substituir o egoísmo, todas as instituições sociais passarão a ter por alicerce o princípio da solidariedade e da reciprocidade. O forte protegerá o fraco ao invés de explorá-lo.[1]
Finalizamos com um pensamento do nobre filósofo francês, Blaise Pascal:
Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família serão respeitados.[2]
Equipe Filosofia no ar / tc 03/06/2013
[1] Viagem Espírita em 1862 » Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux » Discurso III.
[2] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XI - Amar o próximo como a si mesmo - Instrução dos Espíritos, O egoísmo, item 12.
Outras fontes consultadas:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Altruisme
http://www.cnrtl.fr/definition/égoïsme
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