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A humildade
Nós nos limitaremos a dizer que a humildade é a modéstia da alma. (Voltaire)
A humildade tem sido, ao longo do tempo, uma virtude pouco compreendida.
Esse termo é derivado da palavra latina humilitas, que continha então um significado de rebaixamento, de fraqueza, de subserviência.
No entanto, se remontarmos à origem a palavra humildade, descobriremos que ela tem a mesma raiz da qual nasce a palavra homem.
Os termos hebreus haadama, que significa terra, e o termo hebreu haadam, que significa homem, deram origem a muitas palavras de que nos utilizamos hoje, sem suspeitar de que fazem parte da mesma família etimológica.
Foi do termo hebreu haadam, homem, que surgiu o nome Adão e que, equivocamente se acreditava ter sido o ser humano que deu origem a toda a humanidade, isto é, o primeiro homem da Terra.
Dentre as palavras que também derivaram dessas raízes, estão: homo-sapiens, homicida, humanidade, húmus, inumar (enterrar), exumar (desenterrar), desumano, homenagem, etc.
O termo homem, portanto, em seu significado original, estava ligado ao que é da terra, formado dos elementos da terra.
No Antigo Testamento, que é a história do povo hebreu, Moisés diz que Deus formou o homem do limo da terra. Essas palavras ficaram sem sentido até que as ciências avançaram, e hoje sabe-se que realmente o corpo do homem é formado de elementos da matéria inorgânica, ou do limo da terra.[1]
Graças ao progresso dos conhecimentos do homem quanto à sua origem, muitos preconceitos foram abandonados. As pretensões de “sangue azul,” de supremacia de raça tornaram-se sem sentido quando as ciências descobriram que o corpo do homem possui células nervosas iguais as das esponjas do mar.
Mas, afinal, por que essas considerações são feitas a propósito da humildade?
Para lembrar ao homem que o que o distingue dos animais não é seu corpo, mas o ser racional que o habita.
Se assim é, não há razão para o orgulho de raça, de cor, de um corpo escultural, uma vez que este tem a formá-lo os mesmos elementos que o dos animais, a animá-lo o mesmo princípio vital, ou seja, a aquecê-lo o mesmo fogo, como tem a iluminá-lo a mesma luz e se acha sujeito às mesmas vicissitudes e às mesmas necessidades.[2]
A nobreza, portanto, não está no corpo, matéria perecível como qualquer outra matéria, mas na alma que temporariamente o habita.
Os homens mais ilustres que passaram pela Terra foram caracterizados pela sua humildade. Eles vieram ao mundo para ensinar valores, e sabiam que os verdadeiros valores não são exteriores, pois é na alma que se desenvolve a verdadeira grandeza.
O mais ilustre entre os humildes, ficou conhecido no mundo pelo nome de Jesus, o Cristo. Foi ele quem disse: “Felizes os pobres em espírito, pois deles é o reino dos céus.”
Essa máxima geralmente é mal compreendida, “e pobre de espírito” é tido por sinônimo de baixeza, de espírito limitado, ou ignorante.
Albert Schweitzer, prêmio Nobel da paz em 1953, assim a entendeu: Ser pobre em espírito não é “ter espírito limitado”; os “pobres em espírito” são aqueles que têm consciência de sua pobreza espiritual e têm sede de riquezas interiores, mais nobres e mais elevadas.
Portanto, são as qualidades morais, as virtudes, que nos engrandecem, sem nos exaltar. Segundo os grandes filósofos, a mãe de todas as virtudes é a humildade, virtude que é oposta e contrária ao orgulho, pai de todos os vícios.
O orgulho, como se sabe, é um amor desregrado de si mesmo, é uma visão falsa a respeito das próprias qualidades. Talvez porque o orgulhoso se considere um ser privilegiado, que está acima dos outros e tem direito à supremacia.
E quanto à humildade, como se poderia defini-la?
“A humildade é a virtude que reprime em nós o orgulho; disposição moral que nos lembra nossa fragilidade, sem nos rebaixar; tendência de nosso coração e de nosso espírito para combater nossos sentimentos de vaidade.”
“A humildade, enquanto virtude, é, por assim dizer, a perfeição da modéstia. A modéstia é uma marca de bom gosto e de bom senso, uma das graças da linguagem, da decência e da conduta. A humildade é menos exterior; em nosso coração e em nosso espírito é um ato de alta razão, que nos eleva tanto mais quanto mais nosso sentimento e nosso julgamento sobre nós mesmos forem mais ponderados.”[3]
Compreende-se, pois, que a humildade é uma virtude racional. Um animal não pode ser humilde, já que é irracional e totalmente guiado pelo instinto. Humildade também não significa passividade, falta de firmeza ou hipocrisia.
A mansuetude, a calma, por exemplo, qualidades dos grandes homens, são virtudes filhas da humildade, mas geralmente confundidas com fraqueza ou covardia.
A impaciência, a arrogância, a prepotência, a irascibilidade, normalmente tidas por sinônimos de força, são todas filhas do orgulho e denotam extrema fraqueza de alma.
Encerramos estas poucas reflexões com um pensamento de Elizabeth Goudge:
Homens e mulheres verdadeiramente excepcionais não são nunca amedrontadores. A humildade deles deixa os outros à vontade.
Equipe Filosofia no ar / tc 20/05/2013.
[1] A mulher formada de uma costela de Adão é uma alegoria aparentemente pueril, se admitida ao pé da letra, mas profunda, quanto ao sentido. Tem por fim mostrar que a mulher é da mesma natureza que o homem. Tendo-a como saída da própria carne do homem, a imagem da igualdade é bem mais expressiva, pois equivale a dizer ao homem que ela é sua igual e que ele a deve amar como parte de si mesmo.
[2] Allan Kardec, A Gênese, capítulo XI - Gênese espiritual - União do princípio espiritual à matéria, item 14.
[3] Extraído do termo humilité, do Nouveau Dictionnaire Universel, tome troisième. Paris, 1867.
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