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Por que fazemos o que fazemos?
É aos escravos, e não aos homens livres, que se dá um prêmio para os recompensar por se terem comportado bem. (Espinosa)
Uma das questões mais debatidas em quase todos os meios sociais é a da motivação. A preocupação é justa, pois a motivação é o que se poderia chamar de motor das nossas ações. É o conjunto das causas, conscientes ou inconscientes, que estão na origem do comportamento individual.
A motivação pode ser intrínseca ou extrínseca.
O indivíduo que pratica uma atividade pelo prazer e a satisfação que obtém dessa mesma atividade, está intrinsecamente motivado. Quando a atividade é executada voluntariamente, sem esperar recompensa nem procurar evitar qualquer sentimento de culpa, pode-se dizer que há em quem a efetua motivação intrínseca.
A autodeterminação e o sentimento de competência desempenham um papel central na motivação intrínseca. Se a pessoa tem consciência dos objetivos que deseja alcançar, ela irá dedicar atenção à tarefa, mobilizar esforços, manter a perseverança, e definir estratégias que a conduzam aos fins almejados.
A motivação extrínseca tem outro caráter. Ela se dá quando o indivíduo age com a intenção de obter uma consequência que não se encontra na própria atividade, mas fora dela. A causa determinante de suas ações não está na própria atividade, mas vem de algo exterior, como por exemplo, receber uma recompensa, obter aprovação, reconhecimento, ou simplesmente, para evitar sentir-se culpada.
Trabalhar somente pelo salário, é sinal de motivação extrínseca.
Trabalhar pelo prazer de executar uma tarefa útil, é motivação intrínseca. O salário, nesse caso, é consequência natural, mas não a causa determinante.
Mas, afinal de contas, tem alguma importância para nossas vidas saber qual é o móvel das nossas ações?
Parece que sim, que saber “por que fazemos o que fazemos”, é muito importante.
O inesquecível filósofo grego, Sócrates, já havia levantado essa questão, ao constatar que uma vida não examinada não vale a pena ser vivida.
Há profissionais que amam o que fazem, e o fazem com grande alegria. Estão sempre motivados, porque a causa determinante da sua motivação é a própria atividade e nela encontram sua satisfação.
Por outro lado, ouve-se profissionais de todas as áreas dizerem que estão desmotivados, sem vontade de perseverar em suas atividades, mas sem outra perspectiva porque se acham reféns das circunstâncias.
É provável que tenham escolhido a profissão motivados por uma causa externa, como, por exemplo, a influência dos pais, dos amigos, dos professores, a expectativa de uma boa remuneração, de reconhecimento, status, etc.
Poderíamos dizer que as frustrações em nossas vidas são inevitáveis, mas muitas delas talvez sejam frutos da pouca reflexão sobre o que fazemos.
Os exemplos de pessoas cujas ações eram intrinsecamente motivadas são inúmeros, e podemos aprender com eles.
Gandhi tinha como causa determinante de suas ações o ideal de justiça, de liberdade, de fraternidade, de paz. Sua motivação era uma chama interior, e ninguém poderia apagá-la. Tinha claro os seus objetivos, os seus “porquês”, por isso elaborava com sabedoria suas estratégias, empenhava todos os seus esforços, e perseverou com a mesma motivação até o fim.
Teria ele permanecido motivado se a causa determinante de sua motivação fosse extrínseca, ou seja, dependesse do exterior?
Teria ele encontrado forças para perseverar se esperasse o reconhecimento, a gratidão, um cargo político, status?
Hoje seu nome é lembrado com respeito e reconhecimento no mundo inteiro, mas como consequência natural da sua forma de viver, e não como algo almejado por ele enquanto viveu.
Quando sabemos “por que fazemos o que fazemos”, observamos também “como” fazemos, o que não é menos importante.
O ser humano almeja a felicidade, isso é inegável. Todavia, nem sempre segue pela via que o faz ou fará efetivamente feliz. Muitas vezes segue na contramão do que busca.
Há três aspirações inatas e que parecem ser comuns aos seres humanos:
- ser útil;
- ter um bom relacionamento interpessoal;
- conquistar a autorrealização.
Observa-se isso com bastante frequência nas crianças. A criança quer ajudar, quer ser útil, e busca sempre estar “de bem” com aqueles que a rodeiam. Sua motivação é naturalmente intrínseca.
Mas quando essa mesma criança passa a ser estimulada por recompensas exteriores, como a competição, o elogio leviano, a adulação, então sua motivação passa a ser extrínseca.
Quando adulta, essa mesma criança entrará no dito “mercado de trabalho”, e muitas vezes acabará esquecendo suas aspirações naturais. Isso porque os valores geralmente difundidos são bem outros, contrários e essas aspirações:
- ser fisicamente atraente;
- ter riquezas;
- ter status.
Por vezes, em vez de atender sua aspiração a ser útil, o indivíduo cede à tentação da recompensa, da aprovação de terceiros, ou passa a cumprir uma obrigação apenas para não sentir-se culpado.
Ouvi, certa vez, um jovem médico desabafar: “Não suporto minha profissão, mas permaneço nela porque é a única coisa que sei fazer, e porque é meu ganha-pão”.
A outra aspiração natural, que é o bom relacionamento interpessoal, às vezes é soterrada pela ambição desmedida, pelo ciúme ou a inveja. Tramas são elaboradas às escondidas, calúnias, “tapetes puxados”, só para retirar a pessoa indesejada do caminho... e à noite a consciência não permite o sono tranquilo.
Jovens se suicidam por não terem o corpo escultural tido como padrão de beleza física.
Consciências são trocadas por tesouros materiais. Ideais são abafados pelas lantejoulas do poder temporal, do status, da bajulação...
Por que fazemos o que fazemos, e como fazemos?
São questões importantes para quem deseja obter a autorrealização.
Qual é o móvel das minhas ações? Qual é a causa determinante da minha vontade?
O que faço está de acordo com as minhas aspirações naturais?
Eis algumas das questões que todo aquele que deseja ser verdadeiramente feliz deve ter sempre em mente.
Equipe Filosofia no ar / tc 03/05/2013.
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