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O que é o mal?
Todas as filosofias têm se ocupado ao longo dos tempos com a questão do mal. Muitos sistemas foram criados na tentativa de resolver o que se chama “O problema do mal”.
Não temos aqui a pretensão de resolver a questão, nem discutir os vários sistemas filosóficos que trataram do assunto. Nosso propósito é tão somente propor algumas reflexões sobre o tema.
Para começar, fomos buscar nos dicionários o significado de mal. Encontramos muitos, mas a maioria deles concorda que o Mal é o que é contrário à lei moral, à virtude, ao Bem.
Temos assim, de um modo geral, uma significação de Mal como sendo o que não é Bem. Outra significação também bastante comum para o termo mal, são as catástrofes de toda ordem, as enfermidades, os reveses da vida, as aflições, a morte.
Há ainda o termo mau, que significa o contrário de bom. Refere-se ao que não é de boa qualidade. Nocivo, prejudicial. Empregado no sentido moral, dizemos: um homem bom, um homem mau.
Mas, afinal de contas, o que é o mal? Tem ele uma essência própria, ou seja, ele existe como substância?
Na celebração do Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro de 2005, o papa João Paulo II fez as seguintes reflexões sobre o mal:
“Desde as origens, a humanidade conheceu a trágica experiência do mal e procurou encontrar as suas raízes e explicar-lhe as causas. O mal não é uma força anônima que age no mundo devido a mecanismos deterministas e impessoais. O mal passa pela liberdade humana. É justamente esta faculdade, que distingue o homem de todos os outros seres vivos da terra, que está no centro do drama do mal e a ele ligado constantemente. O mal tem sempre um rosto e um nome: o rosto e o nome de homens e de mulheres que o escolhem livremente.”[1]
Partindo do conceito de mal dado por João Paulo II, vamos fazer algumas reflexões.
Se em duas partes se dividirem os males da vida, uma formada dos que o homem não pode evitar e a outra daqueles de que ele é a causa primária, por seu desleixo ou por seus excessos, veremos que a segunda, em quantidade, excede de muito à primeira.
Fica evidente, portanto, que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, as quais evitaria se agisse sempre com sabedoria e prudência.
Se não ultrapassássemos o limite do necessário, na satisfação das nossas necessidades, não apanharíamos as enfermidades que resultam dos excessos, nem experimentaríamos os desgostos que as doenças acarretam.
Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos que temer a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos que recear a queda; se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido; se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém fizéssemos, não teríamos que temer as vinganças, etc.[2]
O Maniqueísmo, filosofia religiosa surgida nos primeiros séculos da era cristã, acreditava na existência de dois princípios opostos: o Bem e o Mal, absolutos. Para Maniqueu, seu fundador, o mundo era dividido entre duas forças contrárias: Deus, representando o Bem, e o Diabo, o Mal.
Hoje em dia as doutrinas originadas nessa crença praticamente não existem mais, pois seria erro acreditar que o mal possa ter vida própria, que seja um ente que exista por si mesmo.
Santo Agostinho, que nas primeiras décadas de sua vida foi adepto do Maniqueísmo, mais tarde reconheceu o erro e passou a defender a não existência do mal como substância, mas admitindo-o apenas como a ausência do bem.
Eis o que disse esse filósofo:
Com efeito, o Deus todo-poderoso ao qual os próprios pagãos atribuem: "um império soberano sobre a natureza", não poderia jamais permitir em sua bondade infinita, que o mal se misturasse à sua obra, se ele não fosse suficientemente bom e liderasse só para tirar o bem do próprio mal. E o que é o mal senão a negação do bem? Nos corpos, as enfermidades, os ferimentos, são uma falha de saúde: e isto é tão verdade que os remédios têm por objetivo, não expulsar essas desordem do organismo a fim de que vão subsistir alhures, mas de os destruir absolutamente. Os ferimentos, as doenças não são substâncias; elas são apenas alterações da carne: ora, a carne, sendo uma substância, é por si mesma um bem; mas é um bem que pode modificar a enfermidade, isto é, a falta do bem que chamamos saúde.
O mesmo ocorre com a alma: quaisquer que sejam seus vícios, eles não passam de uma privação dos bens que ela possui por sua natureza. Cura-se a alma? Os vícios não vão se refugiar em outra parte: eles desaparecem no seio da saúde com a qual eles são incompatíveis.[3]
Finalizamos com um preceito sobre o mesmo tema, dado pela Ciência Espírita:
“Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem. Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira.”[4]
[1]http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/peace/documents/hf_jp-ii_mes_20041216_xxxviii-world-day-for-peace_fr.html
[2] Veja-se O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVII - Pedi e obtereis - Ação da prece - Transmissão do pensamento, item 12.
[3] Traité de la Foi, de l'Espérance et de la Charité, chapitre XI - Pourquoi Dieu permet-il le mal ? Le mal n'est que la négation du bien.
[4] A Gênese - A Gênese – cap. III - O bem e o mal - Origem do bem e do mal, item 8.
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