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Boa-fé
Boa-fé é a qualidade daquele que fala com sinceridade e age com retidão. É o contrário da mentira, da hipocrisia, da duplicidade, enfim, da má-fé.
A boa-fé é uma virtude moral, e como tal pode-se dizer que é o amor ou o respeito à verdade.
No campo psicológico é a conformidade dos atos e das palavras com a própria consciência. Aquele que a possui não age com segundas intenções. Não há distância, por assim dizer, entre o que a pessoa de boa-fé pensa e o que diz ou faz.
Há, entretanto, aqueles que se utilizam de uma bandeira filosófica ou religiosa para atingir seus próprios interesses, e aí está caracterizada a má-fé. E há aqueles que compreendem e incorporam à sua vivência os preceitos que pregam, são verdadeiros em sua convicção. Estes, mesmo que por momentos se distanciem da verdade, quando a encontrarem saberão reconhecê-la e a ela se renderão, reconhecendo seu erro, pois são fiéis à sua crença e verdadeiros em seu proceder.
Quem busca a verdade de boa-fé tem mais amor à verdade do que à sua própria opinião, pois deseja sinceramente instruir-se. Se uma ideia nova surge ele a analisa em profundidade, sem preconceito nem parcialidade, e não faz julgamentos precipitados.
A ideia preconcebida, num sentido qualquer, é a pior condição para um observador, porque então tudo vê e tudo ajusta a seu ponto de vista, negligenciando o que pode haver de contrário. Certamente não é esse o meio de se chegar à verdade.
Se uma ideia contraria a sua, a pessoa de boa-fé não busca combatê-la lançando mão de artifícios, de manobras desonestas, mas analisa e compara entre todas a mais sensata e a aceita, ainda que seja contrária às suas crenças e aos seus interesses.
Ao contrário, a pessoa de má-fé busca defender suas crenças a qualquer custo, porque seus interesses falam mais alto do que qualquer argumento. Assim é que muitas vezes ela combate uma ideia simplesmente porque contraria seus interesses.
Há pessoas que de boa-fé se enganam, pois a boa-fé não exclui o erro, exclui a má-fé. Essas pessoas são fiéis à sua crença, mesmo que equivocada, e verdadeiras em seu proceder, o que exclui a hipocrisia.
A boa-fé também tem a ver com a justiça, com a honestidade. Homens de boa-fé são justos e honestos nos contratos, nas trocas, ainda que na informalidade. Quem poderia desejar relacionamentos com pessoas de má-fé?
Enganar o comprador sobre a qualidade do produto que vendemos, ou não avisar sobre um defeito que ele não percebe, é agir de má-fé.
Quando vendemos um automóvel que tem um defeito que desconhecemos, por exemplo, não agimos de má-fé. Mas se mascaramos o defeito para que o comprador se iluda quanto à qualidade do produto, a má-fé fica evidente.
A boa-fé pressupõe sempre a sinceridade, mas a ultrapassa, porque ser sincero é não mentir aos outros, ser de boa-fé é não mentir nem aos outros nem a si mesmo.
Para o filósofo francês André Comte-Sponville: A boa-fé é uma sinceridade ao mesmo tempo transitiva e reflexiva. Ela rege, ou deveria reger, nossas relações tanto com outrem como conosco mesmos. Ela quer, entre os homens como dentro de cada um deles, o máximo de verdade possível, de autenticidade possível, e o mínimo, em consequência, de artifícios ou dissimulações. Não há sinceridade absoluta, mas tampouco há amor ou justiça absolutos: isso não nos impede de tender a elas, de nos esforçar para alcançá-las, de às vezes nos aproximarmos delas um pouco… A boa-fé é esse esforço, e esse esforço já é uma virtude.[1]
No dizer de La Rochefoucauld: A sinceridade é uma abertura de coração que nos mostra tais como somos; é um amor à verdade, uma repugnância a se disfarçar, um desejo de reparar seus defeitos e até de diminuí-los, pelo mérito de confessá-los.
Equipe Filosofia do ar / tc 23/12/2012
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