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Ética no quotidiano[1]
Quando se fala em ética, é bastante comum a ideia de que esse é um assunto que diz respeito apenas a algumas áreas da sociedade, como à medicina, por exemplo.
No entanto, por ser a ética a ciência dos costumes, a área da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana, ela diz respeito a cada um de nós.
Como vimos antes[2], as palavras “ética” e “moral”, tiveram sua origem no termo grego éthos, e no seu adjetivo èthikè que tanto pode significar o “caráter” de uma pessoa, a maneira pela qual ela “habita o mundo”, como os “costumes”, as maneiras de se comportar numa sociedade em determinada época. Nós optamos por usar os termos ética e moral como sinônimos.
Podemos dizer que a nossa forma de agir no dia a dia é a maneira pela qual influenciamos o mundo ao nosso redor. Nosso comportamento é a nossa marca ética, nossa marca moral.
Mas agir eticamente não se resume somente em saber o que devemos decidir nos minutos seguintes, em função da situação particular em que nos encontramos, trata-se também de saber em nome de quê tomaremos uma decisão de preferência à outra, quais são os valores nos quais vamos nos basear, que critérios seguiremos para fazer a nossa escolha.
A questão mais importante não é apenas saber qual decisão vamos tomar. O essencial é apreender em função de quê escolhemos ou rejeitamos uma solução entre as inúmeras possibilidades que se apresentam.
Dito de outra forma, a ética não é uma atividade prática em que se pode aplicar regras de forma mecânica. Quando se trata de escolhas individuais é preciso refletir sobre o que justifica tal preferência, em que se fundam as escolhas das ações, os métodos que vamos colocar em prática, os resultados que queremos atingir, e as razões que legitimam tudo isso.
Assim, mesmo quando decidimos rapidamente e agimos sem refletir com profundidade, por meio dos nossos atos nós oferecemos um modelo aos outros. Mesmo sem intenção premeditada, mesmo sem o querer, nós construímos uma ética.
Vamos a um exemplo: se tu decides agir de uma certa maneira e não de outra, é porque julgas tua maneira de agir a melhor, ou a menos má. Fazes o que pensas que é preciso fazer. O mesmo ocorre quando tens a impressão de que agiste maquinalmente, “sem pensar”. Ainda que não te questiones muito sobre teus atos, ao agires tu propões aos outros um modelo, pois és um agente que influencias o meio em que vives.
Se trapaceias no jogo, por exemplo, é como se estivesses a dizer: “é preciso trapacear”. Estás sugerindo que trapacear é um bem e que todos nós devemos trapacear. Eis o que tu dás como modelo à humanidade. Podes dizer que isso não interessa aos outros, mas é o que pensas para escapares à tua responsabilidade.
Isso ocorre mesmo quando fazes alguma coisa que, em aparência, diz respeito somente a ti. Isto quer dizer que mesmo que escolhas ocupar-te somente de ti, como egoísta, ou agir com caridade, estás propondo um modelo.
O herói ou o traidor, o bom e o mau, dizem, cada um por meio das suas ações “é preciso ser um herói”, “é preciso ser um traidor”, etc.
Se assim é, se com nossas escolhas nós propomos regras, também é certo que nem sempre sabemos claramente como fazer as melhores escolhas.
A partir deste ponto, muitas perguntas surgem: “quem decide o que é bem e o que é mal? Em nome de quê?
Muitos códigos de ética foram criados ao longo do tempo, especialmente no contexto das novas descobertas científicas dos dias atuais. Ao surgirem novas possibilidades de experimentações no campo da Biologia, por exemplo, criou-se a Bioética para regulamentar o que se deve ou não fazer, até que ponto se deve avançar, como no caso da clonagem e de outros experimentos. Esses códigos de ética geralmente são convencionados pelas associações, pelos órgãos competentes.
No entanto, com relação às escolhas particulares, aquelas que nenhum código de ética indica como boas ou más, essas cabem somente ao indivíduo, isto é, ao tribunal da sua própria consciência.
A ética tem como principal característica a preocupação com relação ao outro. Aquele que vivesse sozinho no deserto, certamente não teria que se preocupar com seu próximo, pois não haveria um.
A felicidade é o objetivo visado, em última análise, de toda proposta ética. E como não se pode ser feliz sozinho, é preciso levar em conta a felicidade do outro.
Algumas correntes filosóficas estabeleceram valores morais e princípios ideais para a conduta humana. As principais doutrina éticas são:
Ética das virtudes, ou eudemonológica: a virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Segundo Aristóteles é uma disposição adquirida de fazer o bem, e elas se aperfeiçoam com o hábito (ética defendida por Platão e Aristóteles.)
Ética cristã: ética das beatitudes ou felicidade eterna (defendida por Santo Agostinho e Tomás de Aquino).
Ética deontológica, ou dos deveres: cuja ideia é agir por puro dever e tornar-se digno da felicidade. (defendida por Descartes e Kant).
Ética utilitarista: doutrina ética que prescreve agir (ou não agir) de maneira a maximizar o bem-estar global do conjunto dos seres sensíveis. Ética que avalia uma ação, ou uma regra, unicamente em função de suas consequências. Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista com a frase: Agir sempre de maneira a produzir a maior quantidade de bem-estar (defendida por Jeremy Bentham e John Stuart Mill).
Muitos filósofos da atualidade admitem que, de todas as doutrinas éticas propostas ao longo da história da humanidade, talvez a mais simples e mais completa seja a que foi prescrita por Jesus:
Amarás o teu próximo, como a ti mesmo.[3]
Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam.[4]
Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem.[5]
Equipe Filosofia no ar / tc 25/02/2013
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