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Ética e Moral
Antes de tudo, vamos procurar saber de onde vem a palavra “ética”?
Vem do termo grego éthos.
No entanto, não é fácil compreender o que significava éthos para os gregos da Antiguidade. Em nosso vocabulário atual é impossível traduzir esse termo por uma única palavra.
Para os gregos, éthos significava, em primeiro lugar, o “habitat”, exatamente a maneira pela qual uma espécie animal habitava o mundo.
Éthos dos pássaros, por exemplo: voar, cantar, fazer ninho, pôr ovos, transportar-se pelos ares de uma região ou de um continente a outro.
Hoje em dia existe uma disciplina que estuda o comportamento animal: a Etologia. Esse termo também é derivado da palavra grega éthos.
Mas ainda não é tudo, pois para os gregos éthos também podia significar o “caráter” de uma pessoa, a maneira pela qual ela “habita o mundo”, em função de suas disposições naturais.
Éthos significa igualmente os “costumes”, as maneiras de se comportar numa sociedade em determinada época.
Como se vê, é sempre o sentido geral de “comportamento” que se encontra no fundo dos diferentes usos do termo éthos.
Bem, até agora nós falamos de éthos, mas é precisamente do seu adjetivo èthikè que surgiu a palavra ética. Foi Aristóteles o primeiro a forjar a expressão èthikè théôria, que quer dizer, literalmente: “contemplação comportamental”, para designar um saber “relativo à forma de se comportar”.
Eis a primeira das definições possíveis do que significava ética para os gregos: uma forma de conhecimento relativa aos comportamentos.
No entanto, há duas maneiras distintas de considerar os comportamentos. Uma delas é simplesmente descrever como se comporta um povo, uma tribo, sem nenhum julgamento de valor, sem se importar se agem bem ou mal. Assim procede a Etologia a respeito do comportamento dos animais.
A outra consiste em, ao observar os comportamentos, buscar a melhor maneira de se comportar. Ela tenta determinar quais são os “bons” comportamentos, que é desejável seguir, e quais são os “maus”, que é preciso evitar, afastar, combater. Aí se coloca a questão dos julgamentos normativos, que enunciam o que é bem ou mal.
É preciso então tentar saber em razão de quê certos comportamentos são melhores e outros piores. Trata-se de colocar os julgamentos morais sobre os comportamentos, discernir os que são portadores de valores positivos e os que, ao contrário, são imorais ou antimorais, portadores de perigos ou de valores destrutivos.
E já que falamos em julgamentos morais, de valores, do bem e do mal, etc., isto quer dizer que ética e moral são a mesma coisa?
Embora essa questão já tenha fomentado muitos debates, pode-se dizer que sim, que moral e ética são a mesma coisa, porque derivam do mesmo termo grego éthikè.
Ao traduzir éthikè para o latim, o filósofo Cícero tomou o termo latino equivalente à ideia de éthos, ou seja, mores, que quer dizer “costumes”. Assim, para exprimir o que é relativo aos costumes, ele criou a palavra moralia.
Portanto, a palavra “morale”, (moral), diz em latim exatamente a mesma coisa que èthikè (ética) em grego.
Assim sendo, ética e moral se ocupam, indistintamente dos valores, do bem e do mal, refletem identicamente sobre como discernir e como aplicar as regras fundamentais de um bem proceder; caminham em paralelo, tanto em grego, quanto em latim.
Texto elaborado com base no livro L’èthique expliquée à tout le monde, de Roger-Pol Droit, ed. du Seuil, mars 2009.
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