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A criança e o consumismo I
Samantha Lodi[1]
Era uma terça-feira de 2012, 18h05m. As filas dos caixas do supermercado estavam longas. Coloquei-me uma delas, esperando a minha vez. Enquanto esperava, organizava em minha cabeça tudo o que ainda deveria fazer naquela hora em que deixava de ser aluna e encarnava a professora, sempre correndo entre os estudos e o trabalho. A menininha que estava no carrinho da frente, com aqueles suportes que permitem aos pais realizarem suas compras, sorriu para mim. Como foi bom receber um sorriso bem naquele momento! Sorri para ela também, e estabeleceu-se uma simpatia.
Como interagimos, ela resolveu me mostrar o produto que mais tinha gostado daquela compra semanal, enquanto seu pai organizava outros produtos na esteira do caixa. Olhei para a pequena, que deveria ter cerca de três anos de idade, e ela me mostrou com suas mãozinhas miúdas um enxaguante bocal. Logo pensei na higiene e disse: Você vai usar isso para limpar sua boca? Ela respondeu: Princesas!
Como pude não notar! A maior aquisição da simpática garotinha era um produto que trazia em seu rótulo “as princesas”. Acho que ela nem sabia para quê servia aquele produto que carregava: a única coisa que importava era o desenho estampado no rótulo do produto.
Cenas como essa devem ser rotineiras, e não são estranhas aos pais de hoje. Somos bombardeados por propagandas de produtos que trazem os personagens preferidos das crianças em qualquer produto, tudo isso com a finalidade de fazer com que o consumo aumente. O problema é que poucas vezes paramos para pensar sobre o assunto, e essa “naturalidade” criada pela mídia pró consumismo, é pouco refletida e talvez não faça parte dos diálogos entre pais e filhos.
Nossas emissoras de TV e a internet vendem qualquer espaço para a publicidade. E esses espaços podem ser os intervalos dos programas infantis, e mesmo neles embutidos de maneira sutil, como roupas, calçados, adereços dos personagens, etc. As propagandas estimulam grupos que usam isso ou aquilo, mexem com a criança dizendo que é importante ter tal produto, caso queiram fazer parte de alguma turma específica.
Se nós adultos somos presas fáceis e, às vezes, nos influenciamos com as propagandas, mesmo sabendo claramente que elas são feitas para alavancar vendas, imaginemos a criança, que é inexperiente nesse assunto, e que nas escolas convive com outras crianças que, também influenciadas pelas mesmas propagandas, reforçam em seu dia-a-dia que os produtos são necessários para a aceitação nos grupos que formam.
O consumo excessivo tem sido pensado por vários estudiosos e institutos que combatem a falta de regras no Brasil, para defender a criança dessas propagandas. Algumas conquistas importantes têm ocorrido, e as empresas responsáveis pelo abuso foram multadas. Mas ainda são tímidas conquistas, fruto de muita luta.
Sempre penso que a relação entre pais e filhos é fundamental para que a criança compreenda como funciona nossa sociedade consumista e para que os pais não substituam afeto e diálogos por produtos. Certamente os pais não dão presentes aos filhos com a intenção de prejudicá-los e o que eu mais ouço é que estão oferecendo “tudo aquilo que não puderam ter”. Aí vem a necessidade de esclarecimento, pois o fundamental nessa relação entre pais e filhos é o diálogo que esclarece, é o carinho, que não estão à venda em gôndolas de supermercados. Não quero dizer com isso que nada pode ser comprado para a criança, mas sim que o rigor de critério momento das compras e do consumo é benéfico.
Imagens de personagens infantis estão estampados em rótulos de alimentos cheios de gordura e de açúcar, com baixo teor nutricional, e são, quase sempre, os preferidos das crianças, que logo identificam esses produtos, não pelo conteúdo, mas pela estampa dos rótulos. O comercial atingiu seu objetivo junto ao público infantil. Hoje a obesidade em crianças não é mais uma preocupação exclusiva dos Estados Unidos. Vários países do mundo já se debatem contra esse mal, e dentre eles está o Brasil, visto que aqui também o número de crianças obesas cresce a cada dia.
É claro que a escola pode, e deve, ser uma aliada nessa questão. E quando ela não é? Uma amiga, que é mãe, foi chamada na escola das filhas e a questão que foi colocada, entre outros assuntos, é que quinta-feira era dia de salgadinho na escola e as suas filhas não levavam o salgadinho. Fiquei chocada com a falta de preparo daquela instituição, em relação à saúde das crianças.
O consumismo infantil também pode ser pensado sobre outros aspectos, sobre os quais é importante refletir.
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