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Vaidade segundo Plutarco
Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem. Santo Agostinho
Nada, diz Xenofonte, é mais agradável do que ouvir elogios dos outros; mas também nada é mais repugnante do que ouvir alguém incensar a si mesmo.
Primeiramente, nós vemos como impudicos aqueles que o fazem, visto que deveriam corar de vergonha se outros os lisonjeassem em sua presença.
Em segundo lugar, nós os achamos injustos porque dão a si mesmos o que deveriam receber de outrem. Enfim, quando se gabam, se nós ficamos em silêncio aparentamos ar de desgosto e de inveja, ou, para evitar essa censura, somos obrigados a confirmar os elogios que nosso coração desaprova, e lhes adular; procedimento que é mais uma detestável bajulação do que verdadeira estima.
É preciso confessar no entanto, que há ocasiões em que um homem possa arriscar a falar vantajosamente de si mesmo, não por motivo de ambição ou de vaidade, mas porque as circunstância exigem que ele fale de si com verdade, como teria feito qualquer outro; e é sobretudo quando sua conduta atual é honesta, que ele não deve temer dizer que se comportou da mesma forma outrora.
Um tal testemunho não pode senão produzir bons frutos, e aí nasce, como de uma semente fecunda muitos outros louvores ainda mais honoráveis.
O homem de estado não busca a glória como um salário, ou como compensação de sua virtude, mas como um meio que sua reputação de probidade lhe dá para fazer mais belas ações. Ele tem a felicidade e o consentimento para prestar serviço a seus amigos, e a todos os que têm nele confiança; mas ele vê sua virtude encadeada e seus benefícios inúteis para os que suspeitam de sua probidade e o caluniam.
Se um homem crê ter outras razões para dar testemunho de si mesmo, ele o deve pesar com cuidado, a fim de se poupar a vergonha de uma vaidade odiosa, e para que não falte um objetivo útil.
***
Nada é mais frívolo e mais vão do que lisonjear a si mesmo a fim de o ser pelos outros. Isso é o efeito de uma ambição desmedida e de um tolo amor pela glória, que só podem atrair maior desprezo. Viu-se homens que, pressionados pela fome e não encontrando nenhum outro alimento, foram forçados a nutrir-se de sua própria carne, excesso último em que a fome pôde leva-los.
Do mesmo modo, se aqueles que são famintos de adulação não encontram ninguém que satisfaça seu desejo, elogiam-se a si mesmos abertamente; e, por um vergonhoso amor pela glória, nutrem sua vaidade com sua própria substância. No entanto, quando não lhes é suficiente simplesmente louvarem-se a si mesmos, e que, ciumentos dos elogios que se faz aos outros, eles opõem, para lhes obscurecer o brilho, a narrativa de suas próprias ações, então à vaidade eles ainda acrescentam a malícia e a inveja. Colocar o pé na dança do outro, é, diz o provérbio, uma curiosidade ridícula; mas se jogar, por assim dizer, através dos elogios que se faz a um outro, para aí encontrar seu próprio elogio, é uma vaidade da qual é preciso defender-se com cuidado.
Não soframos, mesmo nessas ocasiões em que outros nos elogiam, e deixemos essa honra aos que a merecem. Se as pessoas a quem se faz elogios deles são indignas, não tomemos o seu lugar; mas provemos altamente, e por razões sem réplica, que não merecem os louvores que se lhes dá. Este é um ponto sobre o qual não pode haver dúvida.[1]
Plutarco
Equipe Filosofia no ar / tc 03/10/2012
[1] Do livro: Beautés des Œuvres Morales de Plutarque, tome premier, à Paris, 1835. Chapitre : Comment on peut se louer sans s’exposer à l’envie, 1 e 2. Traduzido pela equipe Filosofia no ar.
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